Queda ~ livre

O piloto acabara de avisar que o avião estava em queda,
Nos ajeitamos em nossas poltronas, apertamos os cintos.
Todos estavam calmos e em silencio. Já sabíamos como seria.
Eu vi que acabara ali, aprendi que a gente morre sozinho. Não levamos nada.
Os nossos amores desaparecem, e quem ficava carregava isso consigo até a hora de ir
também. Mesmo com a sensação de que não levamos nada, não queria estar sozinho.
Na minha frente um casal de idosos estavam de mãos dadas, tranquilos e prontos.
Ninguém gritava e em cada chacoalhada, apenas à espera.
Espera que levei por toda a minha vida, e até aqui não servira pra nada. Faltava atitude.
Já tinham me falado isso. Logo às bolsas de oxigênio caíram e ninguém se pôs a usara.
Eu tentava encontrar expressões de desespero nas pessoas, mas todos estavam calmos e
esperançosos. Não sei dizer ao certo o que estava acontecendo. O piloto faz mais um anuncio.
Diz que não há mais chances de saímos vivos e todos agradecem o seu ato de bondade e
honestidade. Logo após as luzes se apagam e só ficam as luzes de emergência.
Fecho os meus olhos, parece que a paz que tanto procurei estava ali o tempo todo comigo.
Apenas estava em um labirinto, agora estou a salvo, fora dele.
E começo ter sensações de alívio e flash de acontecimentos, sinto um êxtase e sinto um calor.
Como se aprendesse a amar novamente, sentimento puro e infantil. Abro um sorriso escancarado,
como era bom se sentir assim. E uma lágrima cai de mim. Abri os olhos e via o desastre.
O avião caindo de bico e o fogo subindo até a mim. Logo depois do clarão, uma escuridão.
Já agora 
não esperava nada mesmo de ninguém. Minhas dividas estavam quitadas. Ok, foi curta a minha estadia.
Mas só vão lembrar das coisas boas que fiz ou falei. Espero que se esqueçam rápido e voltem a viver.
Eu queria ver os filhos dos meus amigos e da minha ex-namorada. Não tenho mágoa 
de nada.
Foi o que acontecera e é isso aí. Já não me lembro pra onde eu ia, me soava engraçado.

Eu ria, mas não podia ouvir minha voz, já me cansava daquilo. O que era? Autorreflexão?
Cheguei a pensar que qualquer hora meu psicólogo iria me acordar e dizer que meu tempo acabou.
Iria até a recepcionista e remarcar pra semana que vem. Mas não, era um silêncio. Será que levamos
até os nossos ‘defeitos’ para o fim?
Por fim sentia o meu peito esfriar e um sono forte chegando, acho que precisava daquilo.
Deixava os meus sentidos me levarem, até que acabou.

Magno Silvestre

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